Por que a doutrina
do nascimento virginal de Jesus
é tão importante para a fé cristã?
Resposta Cristã – Minha resposta
será mais profunda, por isso, tenha paciência de lê-la. Saber a resposta a esta
pergunta reforçará sua fé em outras doutrinas básicas da fé cristã. Com base
nas Escrituras Sagradas, desde os pais da Igreja até os nossos dias,
reconheceu-se o nascimento virginal de Jesus como uma doutrina fundamental da
fé cristã. Mas por quais motivos?
A fé cristã confessa Jesus gerado no ventre de Maria, como homem
perfeito e não debaixo do pecado original. (Hebreus 7:26) Para gerar Jesus no
ventre de Maria, não se precisou da intervenção de um pai humano, pois tudo
ocorreu como obra do Espírito Santo de Deus. (Mateus 1:20) Sem a intervenção de
um homem na geração de Jesus, Maria permaneceu virgem até o nascimento de
Jesus. (Mateus 1:25a) Isto coloca o homem Jesus Cristo numa posição ímpar em
relação a nós, ou, conforme explica STURZ (2012), “seu nascimento
virginal o coloca à parte de todos os demais da raça humana.” [1]
Evidência da Graça Salvadora de Deus
Desde que o homem caiu no pecado, Deus, em sua infinita graça e
misericórdia prometeu salvar o homem através de um descendente (Gênesis 3:15)
que viria da tribo de Judá (Gênesis 49:10). O arranjo de sacrifícios na Lei em
seu caráter cerimonial apontava para a necessidade de um sacrifício absoluto e
definitivo da parte deste descendente, que foi Jesus, o Cordeiro que tira o
pecado do mundo. (João 1:29) Este Jesus, existindo na forma de Deus,
humilhou-se a si mesmo e assumiu a forma humana. (Filipenses 2:5-8) Mas ao
assumir a forma humana, conveio a Deus que Jesus experimentasse muitas das
nuanças da humanidade, incluindo a mais importante delas: Experimentar o
nascimento humano.
Tal nascimento virginal evidenciou a graça de Deus para a salvação de
muitos. Para Maria, seu esposo, e todos aqueles que têm vindo a crer no
ocorrido, serve de sinal para que se reconhecesse a vinda do Salvador. Por
isso, Mateus atesta que o nascimento virginal de Jesus estava de acordo com as
palavras do profeta Isaías: “A Virgem engravidará e dará à luz um filho,
a quem chamarão Emanuel, que significa Deus conosco”. - Isaías 7:14, Mateus
1:23.
O nascimento humano e virginal de Jesus, em relação à graça salvadora de
Deus, é uma evidência, por conseguinte, de que tal salvação jamais dependeria
de esforços humanos. Sobre isso, GRUDEN (1999) afirma:
“O nascimento virginal de Cristo é um lembrete inequívoco de que a
salvação jamais pode vir por meio do esforço humano, mas deve ser obra do
próprio Deus. Nossa salvação deve-se apenas à obra sobrenatural de Deus e isso
ficou evidente bem no início da vida de Jesus, quando ‘Deus enviou seu Filho,
nascido de mulher, nascido sob a lei, para resgatar os que estavam sob a lei, a
fim de que recebêssemos a adoção de filhos’.” [2]
Como também declara O Novo Comentário Bíblico São Jerônimo, “a
concepção virginal pode ser considerada um sinal físico externo de uma
realidade invisível, interna, o nascimento do Filho de Deus”.[3]
FERREIRA
& MYATT (2007) também comentam: “Precisamos acrescentar que a doutrina
do nascimento virginal é a afirmação da natureza sobrenatural da salvação, que
ocorre sem qualquer intervenção humana.” [4]
Este entendimento ajusta-se muito bem ao fato de que as obras de Deus
muitas vezes se revelam através de sinais como assinatura divina. - Hebreus
2:4.
Mas além de evidenciar a graça salvadora de Deus em Cristo Jesus,
pode-se citar outra importância de tal doutrina.
Possibilita uma Melhor Compreensão da união das
Duas Naturezas de Cristo
O nascimento virginal de Jesus é uma obra assombrosa e magnífica de
Deus. Se Jesus tivesse descido do céu e se materializado homem, não teria
natureza humana, mas apenas divina. Deduz-se isso de dois fatos: Primeiro,
sobre os anjos que se materializaram nos dias de Ló não se diz que passaram a
ter duas naturezas: A humana e a de anjo. (Gênesis 19:1-15) Segundo, as
Escrituras apontam que Jesus assumiu a forma humana e diz que ele foi nascido
de mulher, portanto, Jesus assumiu a forma humana desde que foi gerado no
ventre de Maria. - Filipenses 2:5, 6; Gálatas 4:4, 5.
Portanto, o nascimento virginal de Jesus serviu de evidência de que Deus
se fez homem na Pessoa de Jesus Cristo e que este possuiria, desde então, duas
naturezas, a humana e a divina. A teologia cristã chama este fenômeno de união
hipostática. HODGE (2001) define isto da seguinte forma:
“O primeiro ponto importante concernente à pessoa de Cristo consiste em que os elementos unidos ou combinados em sua pessoa são duas substâncias distintas: humanidade e divindade; que ele tem em sua constituição a mesma essência ou substância que nos constitui humanos, e a mesma substância que faz Deus infinito, eterno e imutável em todas as suas perfeições. O segundo ponto consiste em que essa união não é através de mistura a ponto de ser produzida uma nova e terceira substância, a qual não seria humanidade nem divindade. [...] As Escrituras, porém, declaram constantemente ser ele tanto Deus quanto homem.” [5]
Posto isso, conclui-se que a doutrina do nascimento virginal de Jesus é
de fundamental importância para a fé Cristã porque ela exprime o método
perfeito que Deus usou para possibilitar a união hipostática. O nascimento
virginal apontava, assim, algo sobrenatural, além da graça salvadora de Deus em
Cristo Jesus: Jesus ser gerado no ventre de Maria é evidência de sua humanidade;
e a ação do Espírito Santo (e não de um humano para gerar um semelhante a si)
em possibilitar que a Segunda Pessoa da Trindade se focasse toda em assumir a
forma humana constitui evidência da divindade de Jesus.
Torna Possível a Humanidade de Jesus sem a Herança
do Pecado
Uma outra razão pela qual o fato do nascimento virginal de Jesus ser uma
doutrina fundamental da fé cristã reside no fato de que sem a intervenção de um
pai humano e sim com a do Espírito Santo, Jesus nasceu sem os efeitos do pecado
original. Sobre isso GRUDEN (1999) e ORR afirmam respectivamente:
“Mas o fato de Jesus não ter tido um pai humano significa que a linha de descendência de Adão é parcialmente interrompida. Jesus não descendeu de Adão da maneira exata pela qual todos os outros seres humanos descendem de Adão. E isso nos ajuda a compreender porque a culpa legal e a corrupção moral que pertencem a todos os outros seres humanos não pertencem a Cristo.” [6]
“Ele seria “santo” desde o ventre. [...] Seu nome deveria ser Jesus [...], denotando-o como Salvador. A santidade de Jesus é aqui colocada em conexão com a sua concepção miraculosa, e com certeza corretamente. Em nenhum caso da história da humanidade, a geração natural resultou em um ser que é impecável, para não dizer sobre-humano.” [7]
Isso é corroborado nas palavras do narrador inspirado Lucas, nas
seguintes palavras: “O anjo respondeu: O Espírito Santo virá sobre ti, e o
poder do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra; por isso aquele que nascerá
será santo e será chamado Filho de Deus.” (Lucas 1:35) Assim, a obra do
Espírito Santo no nascimento virginal de Jesus resultava em Jesus nascer santo,
ou seja, sem pecado e não debaixo dos efeitos do pecado adâmico.
Essencial para a Confiabilidade das Escrituras
Conforme demonstrado na introdução deste texto, Deus, desde os escritos
do Antigo Testamento, prometeu um Salvador. Este foi apresentado no Novo
Testamento como Jesus. Além do fato do nascimento virginal de Jesus evidenciar
a veracidade das Escrituras em prever acontecimentos futuros, crer nisto separa
um crente verdadeiro na Palavra de Deus de um intérprete liberal, que aceita o
nascimento de Cristo, mas a concepção e o nascimento virginal como mito ou até
como uma réplica das lendas de super heróis de períodos próximos a Cristo.
Sobre estes últimos e suas assertivas de que nada de sobrenatural ocorreu no
nascimento de Jesus, CULVER (2012) questiona:
“Se, entretanto, alguém deseja ler os evangelhos com a atitude de aceitação do que eles realmente dizem, encontrará essa doutrina espalhada pela primeira página do primeiro evangelho e o primeiro capítulo do terceiro. Como alguém pode crer com certeza em qualquer coisa do restante do Novo Testamento se rejeita a mensagem fundamental?” [8]
“De um modo prático, o nascimento virginal de Jesus testa se uma teologia ou teólogo está abordando o cristianismo com pressuposições completamente naturalistas ou está aberto ao sobrenatural. Vivemos numa era de ataques em série ao entendimento claro de discursos claros, como encontramos na Bíblia.” [9]
Em outras palavras, os que buscam o Jesus histórico, homem produto de
uma concepção como a de qualquer um de nós, mas enfeitado de lendas para uma
“estória” da Salvação, não creem de fato nas Escrituras. Nas palavras de
FERREIRA & MYATT, “questionar a doutrina revela, na verdade, um
preconceito contra o sobrenatural. [10]
Conclusão
Neste texto, foram consideradas as razões principais pelas quais o fato
do nascimento virginal de Jesus é uma doutrina fundamental para os cristãos
pois fornece evidências da graça salvadora de Deus através de Jesus Cristo,
possibilita uma melhor compreensão da união das duas naturezas duas naturezas
de Cristo, torna possível a humanidade de Jesus sem a herança do pecado e é
essencial para a confiabilidade das Escrituras, tanto para atestar o
cumprimento de profecias sobre o nascimento de Jesus como também para fazer uma
separação entre os que confiam no relato bíblico e os que negam o sobrenatural
no nascimento de Jesus.
Que a nossa fé no fato do nascimento virginal de Jesus jamais seja
enfraquecida por argumentos de teólogos humanistas, liberais e incrédulos. Eles
responderão a Deus por suas certezas incertas sobre esta e outras doutrinas
centrais da fé cristã. – Fernando Galli.
[1]STURZ, Richard J. Teologia Sistemática, página 268. São
Paulo: Vida Nova, 2012.
[2] GRUDEN, Wayne. Teologia Sistemática – Atual e Exaustiva,
página 436. São Paulo: Vida Nova, 1999.
[3] Novo Comentário Bíblico São Jerônimo: Novo Testamento
e artigos sistemáticos / São Jerônimo, página 140. Santo André (SP): Academia
Cristã; São Paulo: Paulus, 2011. Editores Raymond E. Brown, Joseph A.
Fitzmyer e Roland E. Murphy.
[4] FERREIRA, Franklin & MYATT, Allan. Teologia
Sistemática: uma análise histórica, bíblica e apologética para o contexto
atual, página 515. São Paulo: Vida Nova, 2007.
[5]HODGE, Charles. Teologia Sistemática, página 772. São
Paulo: Hagnos, 2001.
[6] GRUDEN, Wayne. Teologia Sistemática – Atual e Exaustiva,
página 436. São Paulo: Vida Nova, 1999.
[7] ORR, James, em MACHEN, John Gresham, The Virgin Birth of
Christ [O Nascimento Virginal de Cristo], página 382. Grand
Rapids, Michigan, EUA: Baker Books, 1967.
[8] CULVER, Robert D. Teologia Sistemática Bíblica e
Histórica, página 643. São Paulo: Shedd Publicações, 2012.
[9] IBDEM, 644.
[10] FERREIRA, Franklin & MYATT, Allan. Teologia
Sistemática: uma análise histórica, bíblica e apologética para o contexto
atual, página 515. São Paulo: Vida Nova, 2007.